No papel faço minha terapia. A cada palavra escrita entendo mais o que não saía pela boca.
Tem dias que me sinto tão sozinha.
Nós quatro nos bastamos quase o ano todo, mas tem dias que falta um empilhamento no sofá após um almoço em família. Queria um sobrinho no colo, queria dar meus filhos pra ir no cinema sem pagar por hora.
Muitos amigos incríveis, mas tem dias que falta a cumplicidade de quem te entende pelo olhar pelos mil anos de amizade, faltam as 'retardadas' pra eu morrer de tanto rir, cantar e dançar a cada simples encontro e as 'bebuns' para eu não ser a única a não querer embora nunca.
Home office todos os dias e a monotonia toma conta e muitas vezes passa por cima da liberdade e da flexibilidade. Queria barulho, gente reclamando ao vivo, pressão olho a olho e discutir estratégias dividindo um pão de queijo.
Não quero voltar.
Quero inclusive curtir minha mini deprê.
Aquela que tenho vergonha de falar porque tenho tudo que nem nunca sonhei.
Ficar rebelde porque a praia foi cancelada com a febre do filho é uma escolha. Tenho tanta coisa pra fazer em casa, um maridão pra assumir e eu sumir no domingo, mas também não quero. Esperei por este dia para não fazer nada do que posso fazer na segunda.
Não quero voltar.
Quero curtir este vazio que faz parte das minhas escolhas.
E essas escolhas são tão maravilhosas.
Escrevo a última frase enxugando a última lágrima.
Passou.
by nati em 24 de abril de 2022
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